Gato preto
O grego Heródoto (484-425 a.C), considerado “o pai da História”, afirmava que os egípcios antigos eram “os mais escrupulosamente religiosos de todos os homens”. Entre eles, a religião estava presente em qualquer um dos aspectos da vida, e na origem dos deuses encontrava-se razão para divinização de diversos animais, entre os quais o crocodilo, o cão ou o gato, este um animal doméstico que se transformou em cosmopolita porque é o único felino que vive espontaneamente na residência dos homens.
Mas seus hábitos noturnos, decorrentes provavelmente da preferência pela caça não só de ratos, como também de répteis, pequenas aves e até mesmo a apanha de peixes, quando ela é possível, fizeram nascer e crescer na Idade Média a idéia de que ele tinha parte como demônio, principalmente se fosse preto, porque essa era a cor que simbolizava as trevas onde o diabo vivia. E essa crença chegou a tal ponto que o papa Inocêncio VIII (1432-1492) não hesitou em incluí-lo na lista dos “mais procurados” pelo tribunal eclesiástico conhecido como Inquisição, responsável pela condenação, mutilação e morte de um número indeterminado de homens e mulheres acusados da prática de bruxaria, feitiçaria ou heresia.
São muitas as histórias sobre a fama negativa dos gatos. Numa delas, diz-se que em certa noite de 1560, um deles, de cor negra, foi perseguido a pedradas por algumas pessoas. Machucado, ele procurou refúgio na casa de uma velha senhora que costumava abrigar esses animais sem dono. No dia seguinte, os moradores da Lincolnshire – cidade inglesa onde supostamente ocorreu o caso – perceberam que a anciã também apareceu machucada, surgindo daí a conclusão de que ela era uma bruxa, e de que a forma de gato nada mais era que seu disfarce noturno. Também na França os gatos não tinham boa vida. Mas em 1630 o rei Luis XIII (1601-1643) resolveu amenizar o dia-a-dia desses felinos proibindo que fossem perseguidos. Uma outra história conta que Charles I (1600-1649), rei da Inglaterra, acreditava que seu gato preto lhe trazia boa sorte, e seu medo de perdê-lo era tanto que o mantinha dia e noite sob vigilância. Um dia depois da morte do gato, ele foi preso e em seguida executado.
Na mitologia escandinava, uma lenda sobre Freia, ou Freija, deusa do amor e patrona da fecundidade, diz que sua carruagem era puxada por dois gatos pretos que depois de servi-la por sete anos transformavam-se em feiticeiras. Tempos depois, já na Idade Média, esses felinos foram associados ao demônio, e por serem animais de atividade predominantemente noturna, criaram em torno de si a idéia de que além de sobrenaturais e servidores de bruxas, ou até mesmo as próprias bruxas, eram também possuidores de poderes apavorantes e personificação do mal e do mistério, daí porque qualquer coisa de ruim que acontecesse, a culpa lhes era sempre atribuída. A história também revela que em tempos passados a punição por determinados crimes incluía a extirpação da língua do condenado, sendo esse órgão dado em seguida aos animais. Quem garante que não tenha se originado daí a frase "O gato comeu sua língua?". Muito embora os gatos domésticos não sejam mencionados na Bíblia, a lenda assegura que eles foram criados quando em determinado momento a Arca de Noé fi-cou infestada de ratos. Para resolver o problema, Noé ordenou que o leão espirrasse, e foi desse espirro que se formou o gato. Deixando-se de lado as histórias e crendices sobre os gatos pretos, é sempre bom saber que uma pesquisa médica realizada em Long Island, nos Estados Unidos, concluiu que os pêlos de um gato preto seriam mais prejudiciais às pessoas alérgicas que os de seus parentes de qualquer outra cor, porque neles as substâncias que provocam esse tipo de reação estão presentes em uma quantidade bem maior.
Espelhos
Há milhares de anos, acreditava-se que a imagem de uma pessoa, seja numa pintura ou mostrada em um reflexo, era parte dela própria, e qualquer coisa que acontecesse com a imagem, sucederia também a ela. Mais adiante, os gregos tinham o costume de ler o futuro a partir da imagem de uma pessoa refletida sobre uma tigela com água. Se o pote quebrasse, era azar na certa. Os romanos herdaram esse hábito, acrescentando que a má sorte se estenderia por cerca de sete anos. Quando os espelhos de vidro surgiram, no século 16 em Veneza, atual Itália, por um preço suportado apenas pelas pessoas de posses, a superstição ganhou novas dimensões, pois os nobres avisavam a seus serviçais que se porventura eles quebrassem um, estariam fadados a viver sete anos de mau agouro. Daí em diante, uma série de superstições foram incorporadas ao histórico do espelho, das quais as mais conhecidas são:
- Quando uma pessoa morre todos os espelhos da casa devem ser cobertos com pano preto durante a semana seguinte após sua morte.
- Não é boa idéia a pessoa falar diante de um espelho, porque durante aquela noite provavelmente ela terá sonhos horríveis.
- Recém-nascidos não devem ser colocados diante de espelhos, pois se isso acontecer, eles vão demorar a falar.
- Quebrar um espelho dá sete anos de azar.
- Ficar se admirando num espelho quebrado é ainda pior. Significa quebrar a própria alma.
- Ninguém também deve se olhar num espelho à luz de velas.
- Não permita ainda que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você.
Sobre a superstição relacionada com a quebra de espelhos, uma versão relata que na Mongólia, então parte da China Imperial, o irlandês Sean Gollachley se estabeleceu em Ulan Bator e ali enriqueceu. Homem de poucos amigos, ele foi acusado de um crime em 1835, aproximadamente, e para não ser preso e interrogado por sete policiais das forças de segurança que o foram buscar, suicidou-se engolindo o espelho italiano que sempre trazia consigo. Quando este se estilhaçou e seus cacos perfuraram o estômago de Gollachey, a hemorragia foi imediata e a morte sobreveio em quatro horas. Os registros policiais dizem que a última frase do irlandês teria sido "Gengis Khan voltará para devorar a Ásia". Os sete policiais encarregados da detenção de Gollachley, morreram no ano seguinte vitimados por infecções desconhecidas, e a partir daí a população mongol passou a associar o espelho do traficante irlandês à morte misteriosa dos sete policiais. Conseqüência: essa crença propagou-se e hoje é conhecida no mundo inteiro.
Escadas
A superstição nada mais é que uma crença que traz consigo o medo das conseqüências, e a escada um exemplo dessa convicção. É incalculável o número de pessoas que não passam por debaixo dela por acreditar que isso poderá lhes acarretar qualquer tipo de azar ou infortúnio. Mas como surgiu tal opinião?
A versão mais aceita é a de que ela tenha se originado durante a Idade Média, época dos castelos protegidos por altas muralhas: quando eram atacados, levantavam-se as pontes e fechavam-se os portões de entrada, de modo tal que o único meio de invadi-los era com o uso de escadas. Como defesa para esse tipo de investida costumava-se derramar óleo fervente sobre os inimigos, e nessa hora, quem subia ou firmava a escada recebia um banho mortal. Daí surgiu a certeza de que segurar uma dessas peças por baixo não era um bom negócio porque isso poderia trazer má sorte para o infeliz que estivesse em tal posição, pensamento que atravessou os séculos e permanece até hoje simbolizando o receio dos passantes quanto à possibilidade de que alguma coisa possa escapar das mãos do pedreiro ou pintor que esteja trabalhando lá no alto, e lhes caia na cabeça.
Dessa forma, a crença de que passar por baixo de escada dá azar pode ser considerada como precaução, uma forma de evitar acidentes. Onde tem uma escada, geralmente há alguma obra, e passar por ali significa que o pedestre pode estar correndo o risco de que alguma coisa despenque lá de cima e o atinja no crânio ou qualquer outra parte do corpo, ferindo-o até mesmo com alguma gravidade. E essa é uma probabilidade que não envolve nenhum misticismo, a não ser, é claro, que se queira acreditar nisso.
Outra explicação é dada pelo maestro e professor de música Ademar Nóbrega (1917-1979) no texto Superstições e Simpatias, publicado na Revista da Semana, em 1946, quando afirma que “A escada é a imagem da subida, da elevação, do acesso social, econômico e financeiro. Passar por debaixo de quem se eleva é simbolicamente renunciar, afastar-se de quem sobre, progride e vence. Decorrentemente, perde a boa sorte quem passa por baixo de uma escada”.
Resumindo, quem passa por baixo de uma escada, na opinião dos supersticiosos, fica marcando passo a vida inteira, sem melhorar sua condição social e financeira, embora tenha gente que defenda o ponto de vista de que se alguém não faz isso é porque tem receio de que a própria peça possa lhe cair sobre a cabeça.
Cuidado ao dormir,você pode ter companhia...!
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